quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Sobre o Amor

Eu fiquei olhando pra ela com um sorriso complacente enquanto ela falava que ele era quase vinte anos mais jovem e moreno e forte, ela sorria e suspirava com o ar de quem sonha tão alto quanto aviões voam. Eu ouvia e sorria, junto com o sorriso dela ao mostrar como ele era independente e trabalhador.

Me ensinou como descobrir o endereço dele com a placa do carro e um conhecido na polícia civil. Cheguei a achar engraçado ela sonhar que aquele Deus grego pudesse andar com ela de mãos dados no parque aos Domingos. E concluiu que depois que arrumasse alguns dentes que caíram, pintasse alguns cabelos brancos que cresciam e emagrecesse alguns quilos que sobravam, por certo ele seria seu. Afirmou, garantiu até, “você vai ver”, ela disse. E eu sorrindo pra ela cheguei a pensar que com certeza o amor era muito ridículo.

Mais tardem cheguei em casa e olhei pra você, com todos os dentes enfileirados numa ordem arquitetônica tão certa, sorrindo pra mim, fazendo meu jantar, e recolhendo a toalha que secava pra que eu pudesse tomar banho, ouvi a musica que havia colocado no som.

Ouvi sua voz grave ordenar pra que eu não demorasse e pedindo desculpas pela bagunça que faz toda vez que está na cozinha. Eu respondi que louça seria minha se problemas, mas não sei se prestei muita atenção no que você disse depois.

E olhei pra você mais uma vez, pros braços fortes e pernas grossas, tanto quanto sua voz, e suas mãos firmes, tanto quanto seus pés ao chão, e sua barriga não lisa que esquenta minhas costas a noite num encaixe perfeito e sua mania de arranhar a garganta como quem sempre tem algo engasgado pra falar...

E olhando pra você assim, cheguei à conclusão de que eu talvez tivesse também alguns dentes pra arrumar, alguns cabelos pra pintar e alguns quilos à perder. E olhando pra você eu sorri, pensando que talvez o amor seja mesmo muito ridículo, mas com toda certeza que há no mundo: o amor é tão absurdamente possível.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Sobre Águas Lindas.

Eu não sou o tipo de garota que você quer. Eu não estudei em escola particular, não fiz balé. Não sei falar em outras línguas, e já senti o gosto de muitas outras línguas. Não sou meiga e nem delicada, quebro porta retratos, copos, vasos, levo choque, sou bem estabanada. Não tenho cinturinha de pilão, não sei fazer média, não faço charme, se eu disser não, é não. Nem sei ceder, tudo tem que ser do meu jeito, tenho gênio forte, bato o pé, não gosto de gritos ou discussões. Não sou um mistério, sou previsível, fácil de adivinhar. Não faço surpresas, não sei comprar presentes e odeio essa sua calça jeans preta descorada,e odeio seu jeito de olhar pra mim e sorrir como quem sabe que eu me derreto por você.

Não sou uma princesinha, não tiro notas altas, já tomei uns porres, já vomitei, já dei pros caras errados e já fui eu mesma a pessoa errada. E continuo sendo, tão torta e errada. A pessoa errada pra você. Então, é o seguinte, para de me olhar com esse sorriso de quem sabe que eu sei que você me quer, de quem sabe que eu sei que é só eu tropeçar, pisar em falso, pra você me segurar com essas mãos fortes e firmes de atleta de artes marciais. Para, porque eu sei me levantar sozinha, sou tão forte quanto você, mas já cansei de falsas paixões, grandes ilusões, e esse seu sorriso só me oferece queda. E o fundo desse poço tem as águas mais lindas que já vi.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sobre 1º Amor


Desculpa amor, mas ainda não aprendi esse jogo político. Amo sem saber amar.  Já tentei me nomear covarde e também forte, mas me recuso a ser taxado de melhor, ou pior que a maioria das pessoas.
Eu não sei sofrer, esse meu lindo sorriso não combina com as enormes cicatrizes do meu peito. Eu não sei perdoar,  meu primeiro amor, não sei como se faz pra abrir o peito e deixar você curar as minhas feridas com as suas mãos firmes e precisas. 
Não tem mais jeito pra nós, fiquei com medo quando vi que precisava de você e você... Você fraquejou. Eu sou um menino que precisa de terra firme pra pisar, de testar pra ter certeza, de vigiar pra ter segurança, eu sou um menino que precisa de carinho pra dormir, do seu beijo pra ter bons sonhos.  E apesar de conhecer tão pouco sobre o amor, sei que não vai ser fácil, outra vez, amar, como a gente se ama.
O próximo amor,se ele vier,será de muitas comparações. Porque ninguém faz um café como você, e não me deixará preocupado com o trabalho dele, porque ele não terá um cobertor tão quentinho como o seu, e porque não será tão boa companhia pra viajar e porque não será você, nem minha mãe fará algum doce pro meu próximo amor, repito, se ele vier.
Segue seu caminho que tenho cicatrizes aqui dentro, e mesmo sabendo que vão sarar, sabe Deus quando vão. Esperar é doloroso demais, deixa que eu faço isso por nós dois.
Corro o risco de perder a hora, perder o caminho. Corro o risco de me perder de nós dois e de repente um dia olhar pra trás e querer você de volta como um dia foi, como um dia fomos. Lindos e jovens.
Eu te amo demais, mas por enquanto esse amor ainda dói.. Sei que vai doer também em você, mas por enquanto é isso... Vai ser feliz, meu amor, meu primeiro amor, você tem a beleza da felicidade e eu a beleza de seguir em frente.
Não dá mais por agora, mas vou te amar ainda amanhã, do meu jeito meio torto, meio brisa. Vou te amar ainda amanhã quando o dia aparecer brilhante nas nossas janelas, nos convidando para amar outra vez, nos amar outra vez. Que pro resto da vida a gente se lembre do frio na barriga do nosso primeiro beijo e de como você parecia ser a minha salvação com olhos doces e coração mole. Você deixou marca em todos os cantos, mas que nada no mundo apague do meu corpo suas digitais.
Eu te amo, mas segue sua vida amor, eu não te quero mais.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Sobre Me Virar do Avesso


Posso parar de andar da sala pro quarto e do quarto pra cozinha. Você ainda não vai chegar. O dia inteiro fico contando as horas até às 8 da noite e depois das 8h começo a contar os minutos e refazer mentalmente os caminhos pra você chegar.

20:10 você me liga. Hoje você não vem. Se aborreceu com alguma coisa que eu disse. E pra mim a culpa é sempre sua. Que levou a sério uma brincadeira, que está atrasada segundo o meu cronograma, que só diz coisas imbecis, ou que nasceu de uma mãe que me obrigou a chama-la de vaca.

A espera de um dia inteiro resumido em meia dúzia de acusações, duas latas de frustração e uma pitada de mentiras idiotas que eu falei pra te ofender. A espera culminou nessa angústia, que é querer voltar o tempo pra não ter falado nada e ter você na minha porta. Eventualmente, quando isso acontece, eu choro.

Você me gira a cabeça menina, me vira do avesso, me adivinha até a sede. Você me deixa sem saber o que fazer, querendo chorar de desespero quando começa essas acusações sem fundamento, querendo mandar você ir embora, me esquecer, sumir de vez, voltar pra cidade dos seus pais e nunca mais me procurar. Me deixa morrendo de ciúmes quando sai com aquelas pinturas e as pernas de fora e o decote também, e vem dançando do meio da pista até o bar, só pra me provocar.

Você me tira do rumo quando quer me proteger do mundo, quando não deixa que as pessoas se aproximem de mim, quando me esconde do mundo e mais ainda quando me esconde do SEU mundo. Você me vira do avesso quando jura que nunca mais quer me ver na frente e no mesmo dia me liga e pergunta se podemos nos ver pra conversar.

Você me tira do sério, faz da minha vida uma prévia do inferno, mas sempre me leva pro céu.
Parece uma criança que acabou de cair no chão na saída da escola, olha pros amigos e olha pra mãe, e segura o choro pra não passar vergonha, mas ao mesmo tempo sabe que perde a delícia de chorar em colo abrigo.  Pra mim você tem sempre essa cara, cara de quem pede abrigo, cara de quem quer proteção nos meus braços. E você nunca quer sair de baixo das minhas asas e eu quero te manter abrigada pra sempre.

Você que tem esse jeito desajeitado de sentar, de se portar, que não tem ideia da mulher que você é, do olhar seu arredondado e de como sua boca fica macia no meu pescoço.  E a sua risada que fica horas me fazendo feliz, você que é insubstituível, e eu que prefiro os domingos de tédio e televisão a sair sem você. Seu olhar observador, que me deixa envergonhada, e seu sorriso sempre atento. Você que elogia minhas aventuras culinárias e suporta minha ferrenha autocrítica, você que me ajuda a odiar pessoas odiáveis, você que é tão bipolar.

Mas eu, mesmo assim, sou perdidamente apaixonada por você, pelo seu jeito de sentir pudor, de me surpreender, de me ensinar a amar você, de se desculpar pela culpa que é minha, de se arriscar em mim. Eu te amo por me deixar gostar de cada centímetro quadrado do seu corpo de pintura renascentista, você que é tão amável menina.

Há seis meses você largou tudo por mim, por nós. Casa dos pais, vida sem despesas domiciliares, cidade de praia, amigos de uma vida. Você que largou tudo por alguém que nem sabia retribuir tanto amor. Você faz da minha vida furacão e eu retribuo em pé de igualdade. Você grita comigo, e eu respondo mal criada, e você me acusa de coisas que eu nunca fiz. Já terminou comigo umas 23 vezes pra pedir desculpas no dia seguinte. Você me dá desespero, raiva, vontade de estrangular você, mas você me faz amar você perdidamente, irremediavelmente.

Eu precisava de amor, eu precisava de alguém real, e você é pura carne, é sangue, pulso batendo forte. Você ama como não se ousa amar outra pessoa na vida, e buscaria uma estrela, ou um cometa se eu pedisse, você me dá tudo que pode e faz por mim o que ninguém fez.

Seu amor é pura doação, mas não é solidário, não é altruísta, você quer muito em troca, você quer tudo em troca, mas porque dá até ficar sem. Amar como você, eu nunca vi, não tem ninguém. 

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sobre Fome


   Eu queria aquele cara, eu queria muito, de qualquer jeito, em quaisquer circunstâncias.  Tinha alguma coisa nele que me fazia querer ele, muito. Ele me deixava entumecida, enrijecida, só de saber da existência dele no mundo, só de saber que ele respirava, que eu o conhecia.  Eu lia tudo que ele escrevia, em todos os veículos de comunicação, eu lia, via, ouvia, engolia, devorava, eu comia ele, eu queria transar ele.  Eu via aquele vídeo dele falando sobre os Smiths com aquela cara de sacana, e parava o vídeo exatamente quando ele levantava a sobrancelha direita, e depois, quando ele fazia aquela cara de desdém. Eu queria dar pra ele naquela mesa de vidro da sala dele.
   O fato é que a gente raramente se via, mas nos falávamos sempre ao telefone, internet, carta. Eu via ele na tv e também o ouvia na rádio. Ele falando de mulheres e eu só querendo saber o que ele diria ao me ver tão entregue, e falava de Bowie e Tarantino e fazia com que eu o quisesse do meu lado, todos os instantes.  Vamos lá, você deve me entender, eu sei que isso não é paixão, muito menos amor. Eu só queria passar a noite toda dando pra ele enquanto escutava Zeca Baleiro cantar, o suor dele no meu, o gosto na minha boca e o gozo por que não? E se pintar amor? Eu engulo, também o amor. Na mesa da sala, na cama, na pia da cozinha e em cima das famosas capas da coleção de vinis dele. A mão direito em Roberto Carlos, a esquerda bem em cima dos Beatles,  em baixo da minha coxa Cazuza.
    E quando me liga,  fica falando que Clarice era amarga, Caio era insaciável e Bjork tinha uma cara de menina arteira, adolescente sofrida de amor e eu querendo ele perto, respiração no ouvido, mistura de sentidos. Querendo jogar longe aquele ar de músico intelectual, junto com aqueles óculos de nerd formado em geografia, cantando com seu inglês estudado no meu ouvido, e eu, querendo dar pra ele. Eu, que nem era chegada a essas coisas, mas como idealizava ele, como sentia ele dentro de mim, como eu tinha necessidade carnal de violentar aquele santuário que habitava aquela alma, cravar as minhas unhas grená nas costas dele, meus dentes na sua orelha, lábios e mamilos. E implorar no ouvido dele quantas vezes ele quisesse pra que ele ficasse dentro de mim.
   Ok, você deve saber o que é isso, sentir necessidade de alguém, é como saudade nas definições de  Clarice*, ele estava sempre dentro de mim, mas eu queria materializá-lo e fazer com que não só a alma, mas nossos corpos fossem um só. E sim, eu daria pra ela assim que o visse, sem cerimônias, sem rituais, nossa primeira transa.
    Mas a verdade é que as nossas almas já vinham se transando há tempos. A minha comendo cada vez mais a dele. 


*Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida - Clarice Lispector

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sobre Valores

Ela me perguntou: Quanto vale o amor?
Eu lhe respondi : O amor vale todo o resto.
Ela disse: Na verdade o amor não vale nada.
Então tive que lhe explicar que às vezes, todo o resto, é nada.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Sobre Fazer Bico

Tem uma mania de fazer biquinho toda vez que não dou o que ela quer. E ela quer tanta coisa... Quer que eu ligue mais, que eu faça surpresas, que eu a leve à cachoeiras, que eu a leve pro motel, que a coma de mansinho.
Chora quando pensa em morte, em maltrato aos animais, em famílias desfeitas, em miséria humana, em crianças pedindo dinheiro no sinal. É pura de coração, mas conhece mais que uma concubina dos prazeres, pecados da carne, das delícias do vinho e da boa mesa.
É toda controversa, mais dramas que novela mexicana, mais tramas que folhetim do horário nobre, mais palavrões que Dercy Goncalves, mais amor que muito amor por aí!
Eu nego, renego, digo que não e pronto. Não ao incenso, não às velas aromáticas, não à camisa rosa, não ao café instantâneo, não à colcha colorida, não às flores artificiais.
Não é maldade, nem capricho, é que não há como negar, essa morena fica linda de biquinho.